Carlos Barbosa- O futsal é o esporte que dá ênfase à técnica, à criatividade, à improvisação e ao controle da bola em menores espaços. Criado na década de 50, expandiu-se pelo mundo a partir de 1989. Foi quando a FIFA assumiu o controle da modalidade. A entidade máxima do futebol estima mais de 30 milhões de praticantes de futsal no mundo. Mas por que não faz parte do programa olímpico?
Os motivos são mais políticos do que lógicos. Em todas as esferas. O entendimento entre o Comitê Olímpico Internacional (COI) e a FIFA, que estão no topo da pirâmide, é essencial. O COI quer o fim do limite de idade de 23 anos, determinado pela FIFA para o torneio olímpico masculino de futebol. A FIFA deseja fatia maior no bolo da divisão de receitas olímpicas do COI. Dificilmente o acordo acontecerá sem pressão das demais entidades e as comunidades do futsal, que formam a base da pirâmide. O trabalho em conjunto, com união, organização, planejamento, persistência e representatividade, precisa vencer a luta contra divisões e vaidades que, até agora, derrotaram o ideal.
Não adianta continuarmos com cada um gritando do seu lado, como acontece no Brasil. A representatividade se faz necessária. Não se consegue representatividade internacional com lideranças regionais defendendo, cada qual, seu ponto vista, sem margem para escutar os pontos distintos. A mudança de atitude se torna imperativa para criar o elo que leve ao objetivo maior. O futsal precisa se mostrar capaz. Mas não tem conseguido.
O futsal no Brasil vive enorme confusão. É o retrato da desunião, que ameaça e enfraquece nosso poderio esportivo no cenário global. Inexiste o trabalho em conjunto capaz do fortalecimento não apenas internamente, mas também no exterior. Todos sabem que o Brasil sempre foi referência na luta pela entrada da modalidade no programa olímpico. Nos últimos anos, lamentavelmente, o esfacelamento das lideranças afastou o país do protagonismo administrativo mundial.
Não há um responsável que possa ter voz no cenário internacional. A liderança é fragmentada e não vai além de medidas incipientes, que impedem o crescimento do futsal até mesmo em nível nacional.
A Confederação Brasileira de Futebol (CBF), única entidade reconhecida pela FIFA e pela Conmebol como responsável pelo futsal no Brasil, quer saber apenas das seleções brasileiras.
A Confederação Brasileira de Futebol de Salão (CBFS) tem legitimidade perante a CBF para organizar competições de clubes, mas foi incapaz de administrar a Liga Nacional, a principal do país.
A Liga Nacional de Futsal (LNF) tem o capital financeiro, mas não a legitimidade perante a CBF (Brasil), a Conmebol (América do Sul) e a FIFA (global). Embora, desde 1996, seja a principal competição do calendário brasileiro de futsal, a Liga Nacional não premia o campeão de cada ano. Nem mesmo o título dá o direito de disputar a Conmebol Libertadores de Futsal, que é o mais importante evento sul-americano, e o Mundial de Clubes.
As ligas regionais brasileiras, como a gaúcha, são organizadas, mas também sem o direito de classificação para a Taça Brasil de Clubes da CBFS.
Já as federações estaduais são, na enorme maioria, deficitárias e sem qualquer plano de recuperação e de desenvolvimento. Porém, têm a legitimidade perante a CBFS.
No domingo, dia 10 de dezembro, a Associação Carlos Barbosa de Futsal (ACBF) conquistou a Liga Gaúcha. No entanto, não terá direito de jogar a Taça Brasil de Clubes da CBFS, o torneio classificatório para a Conmebol Libertadores de Futsal. Só os campeões estaduais das federações possuem essa oportunidade.
Tal cenário faz com que a Taça Brasil seja disputada por equipes menos qualificadas. Como consequência, o Rio Grande do Sul, com times históricos e competidor destacado no passado, perdeu força.
A ausência de datas fixas para as disputas, hoje fragmentadas, também diminuiu o interesse pela divulgação do futsal. A mídia impressa e a web dão pouca visibilidade às competições. A Liga Nacional, administrada pela LNF, mantém a parceria e a cobertura do canal a cabo SporTV, do Grupo Globo, o que representa visibilidade essencial para o evento. É preciso mais. Estar na TV aberta, com frequência maior de jogos, por exemplo.
Esse cenário de fragmentação de lideranças e de modelos confusos para o torcedor traz pouca atratividade para os patrocinadores. Também gera insegurança nos profissionais da modalidade. O futsal brasileiro, da maneira como está organizado, é um esporte amador com viés profissional no âmbito administrativo.
Não é surpreendente estarmos sofrendo com a concorrência da Europa. Em breve, os principais clubes do Brasil não terão como competir financeiramente, principalmente, com os europeus. A única saída é melhorar a estrutura do futsal no país.
Acredite! Há esperança!
Não faltam matéria-prima, requisitos e pontos positivos para virar o jogo.
O futsal é amplamente praticado nas escolas, por meninos e meninas. Existe o envolvimento expressivo de familiares e das comunidades onde está inserido. Deixou de ser um refúgio para a classe média, expandido para todas as classes. As grandes equipes atraem o público e fazem, nos ginásios, grandes espetáculos nas partidas importantes e decisivas, como vimos, na Capital Nacional do Futsal em Carlos Barbosa – RS.
Os grandes clubes de futebol do Brasil reconhecem o futsal como celeiro de craques. Ronaldo Fenômeno, Ronaldinho Gaúcho e Neymar são três fora de série dos gramados que surgiram nas quadras. Existem ídolos próprios. Falcão, considerado o Pelé do Futsal, é um ícone mundial. Manoel Tobias, Jackson, Amandinha, Fininho, Vander Iacovino e Lavoisier têm seus nomes na galeria dos lendários da modalidade.
Mês passado, a FIFA anunciou outro passo essencial para que o futsal se torne olímpico: a realização da primeira Copa do Mundo Feminina de Seleções, em 2025. Decisivo também para o crescimento global entre as mulheres, o outro requisito necessário para o COI permitir a entrada no programa olímpico. Avanço não apenas na igualdade de gêneros e no âmbito técnico, mas também na organização, inclusive no Brasil.
A entrada no programa olímpico, sem qualquer sombra de dúvida, ajudará nos saltos de desenvolvimento, qualidade e status do futsal masculino e feminino.
O Brasil precisa entender seu papel e voltar a ser protagonista para a concretização desse objetivo. Somente será possível com união, organização, planejamento, persistência e representatividade.